quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

A estereotipia da cegueira: o caso “ Devassa Dark Ale”

Fui convidada por uma ativista feminista para escrever um texto no âmbito dos estudos dos gêneros para o blog do grupo, resolvi partilhar aqui no meu cantinho também!


A estereotipia da cegueira: o caso “ Devassa Dark Ale”

Enquanto publicitária e pesquisadora sempre me surpreendo com os conceitos e “sacadas” criadas pelos colegas de profissão, positivamente ou negativamente. A publicidade brasileira é repleta de bom humor e reconhecida mundialmente pela sua criatividade. No entanto, é fácil perceber o quanto a nossa sociedade possui valores patriarcais e machistas, com a insistência do discurso comum, e na repetição de estereótipos.

A sociedade ocidental apresenta uma longínqua existência de uma hierarquia entre os gêneros. Esta diferenciação conduziu a concepção de papéis sociais diferentes e socialmente aceitos para homens e mulheres. Este fato levou ao desenvolvimento de uma simplificação desses papéis na forma estereótipos de gênero. Partindo das questões debatidas pelos estudos feministas, onde a mulher esteve sempre retratada na literatura e na arte como santa, esposa, mãe ou prostituta, não é difícil perceber o caráter redutor na retratação da mulher pela mídia.

Por exemplo, a História da Arte explica que a maioria das mulheres retratadas antigamente, salvo os quadros encomendados pelas famílias e de cariz religioso, eram prostitutas ou consideradas promiscuas. Na maioria das obras estas mulheres foram retratadas com pouca ou nenhuma vestimenta. Neste mesmo período, em algumas sociedades, estas mulheres eram obrigadas a vestir uma peça de roupa amarela ou vermelha para se diferenciarem das demais mulheres. Estas cores significavam o pecado e a promiscuidade. Coincidências a parte, as mulheres retratadas em comerciais de cerveja utilizam trajes quase que apenas nestas cores.

Sim, são cores quentes ligadas ao sexo, a energia e a vivacidade. E também, a cor do líquido (cerveja), do verão, do calor. Mas, justamente se olharmos para trás a história explica o uso de determinados conceitos visuais do mundo atual.

A questão é que vivemos na “sociedade da redução”, onde tudo acaba em padrões. Os estereótipos de gênero podem ser entendidos por representações generalizadas e socialmente valorizadas do que devem fazer e ser, os homens e as mulheres, isto é, seus papéis e identidades sociais. Estas convenções socialmente percebidas são, muitas vezes, traduzidas como “espelho da realidade” e uma representação fiel do que é socialmente aceito. E fica evidente, o uso destes conceitos na publicidade contemporânea. Para o sociólogo Canadense Erving Goffmanos estereótipos de gênero estão incutidos na sociedade atual, e estão sendo claramente assumidos no consumo midiático e em especial na publicidade, como reprodutora das realidades sociais e das ideologias”.

O discurso publicitário quer simular igualitarismo, homogeneidade, remover os indicadores de ordem e de poder, substituindo-os pela linguagem da sedução e da persuasão com o objetivo de incitar o consumo. Na campanha da “Devassa, Dark Ale” fica clara esta ideia, mas com o pior uso que pode-se fazer destes indicadores. O entendimento que se pode retirar de uma campanha repleta de jargões sexistas e de um profundo preconceito racial que reduz a mulher negra aos atributos corporais é de extremo mal gosto e de ordem pejorativa. Nesta ótica, as mulheres são produtos para o consumo, estão sendo vendidas em praça pública para serem consumidas. Seu papel é servir ao homem.

Revela-se os aspectos da socidade patriarcal, apesar de todas as conquistas femininas, da forte representação da mulher no mercado de trabalho, em cargos de poder. Ora, acabamos de eleger a primeira mulher presidenta no Brasil, mas continuamos na longínqua equidade de gêneros. A marca da cerveja já vende-se desta forma quando escolhe uma gíria popular ofensiva a mulher , Devassa, enquanto seu nome comercial. Fica evidente que provavelmente toda a comunicação publicitada sob esta marca será tendenciosa e de cariz sexual, de redução do status da mulher na sociedade.

É inegável que a cultura dos meios de comunicação repercute-se na vida social, induzindo e persuadindo seus espectadores. É pertinente dizer que a publicidade utiliza a emissão dirigida às massas, a grupos de pessoas distintas. Sendo assim, converge características e acaba por conceber os estereótipos que são facilmente consumidos pela sociedade. O Jornalista e Professor Norte-Americano Stephen Craig afirma que as pessoas sentem-se mais confortáveis com os estereótipos de gênero, uma vez que tais características lhes são mais familiares como reprodutora das realidades sociais” . No entanto, a publicidade existe também para achar caminhos criativos de falar o óbvio. Na minha pesquisa de mestrado, fiz um estudo comparativo entre Brasil e Portugal sobre a representação das masculinidades nas capas da Revista Men’s Health. O Brasil apresentava cerca de 70% de uso da imagem da mulher com o uso de cariz sexual que a edição portuguesa, a mesma linha visual da edição de Portugal se configura nas edições Italiana e Norte -Americana.

A mulher brasileira é vendida para o mundo com uma forte exalação de sexualidade. Esta erotização da imagem feminina no Brasil está presente também nas novelas, nos filmes e na publicidade como um todo. Certamente, nas propagandas com um target masculino este traço torna-se mais presente, especialmente nos anúncios de cervejarias. Mas, será que não existe outra forma de publicitar para o masculino? O homem vive também outro período, o da auto representação. Por que a publicidade insiste no discurso da submissão feminina e neste caso, também, de valores colonialistas do racismo contra a mulher negra? A resposta é simples, justifica-se pelo fácil, o seguro, o certo. Mas, indago-me onde está o desafio, a criatividade, o novo tão motivador das boas campanhas? A cegueira estereotipada não nos possibilita ver que o problema está na sociedade como um todo. Mas de que serve, nós comunicólogos, sermos formadores de opinião? Para veicular a mesmice, proferir o discurso comum, reproduzir valores patriarcais. Bem, acho que não.

A sociedade civil organizada e o poder público são os reguladores do funcionamento social, e deveriam intervir com força. Não deveríamos ter apenas a opção de mudar de canal, passar a página da revista ou reclamar com o vizinho o que está latente para todos. Isto não é garantia de direitos, é a garantia de opções. O CONAR trabalha enquanto regulador, mas estamos fartos de saber que as campanhas polêmicas são criadas já esperando pelo veto do CONAR, mas até isto acontecer, já foi veiculada e está na “boca do povo”. Precisamos exigir dos nossos governantes políticas punitivas enérgicas. Não falo de censura, ou aprovação do governo para veiculação de campanha, isto é retroceder. Mas punição para as marcas, agências e sim, os criativos. Temos que começar a nos responsabilizar pelos nossos atos e pela difusão da comunicação e falar com equidade para todo tipo de público, independente de sua etnia, classe, deficiência e/ou sexualidade.

sábado, 18 de dezembro de 2010

Então é Natal...


Hoje em uma das deliciosas confraternizações de fim de ano, fui surpreendida com uma afirmação óbvia" falta uma semana para o Natal". Ano passado, depois de 3 natais estava em casa novamente. O aconchego do lar, o cheirinho do peru da minha mãe, a torta de abacaxi da minha tia, primos reunidos e o cheirinho de maresia do meu bairro querido.

Natal tem um significado especial, não a celebração do capitalismo materializado em troca de presentes. É uma época mágica, as pessoas tornam-se mais solidárias, sorridentes, cheias de esperança, em geral devotam um pouco mais de tempo a família e aos seus entes queridos. Para mim, é mesmo um momento de repensar o que está bom e aprimorar, o que está ruim e tentar mudar, e sim, a família.

Me considero muito abençoada por fazer parte de uma grande família. Uma família comum, cheia de problemas, mas também de perfeição . Com brigas e reconciliações, com sorrisos e lágrimas, mas sempre com muita união. Somos muito festeiros e sorridentes no bom e extremamente unidos no ruim. Nunca fomos ricos, mas o que temos dividimos, sim, nós metemos na vida uns dos outros, mas respeitamos o individual.

Escutei de um amigo visitante em Lisboa que entre o entendimento entre Pais e filhos, são uma diferença de em média 30 anos. Interessante, realmente comecei a entender uma série de atitudes e "nãos" dos meus pais a uns aninhos atrás. Já me senti diferente, abandonada, esquecida, desiludida, triste, raivosa, mas sempre que precisei ou me senti assim, ouvia as palavras sábias de uma neguinha sorridente, de pouca escolaridade, mas muita sabedoria espiritual e de vida, minha mãe. Ou simplesmente , um buchudinho piadista dizia " somos um time", meu pai, e a tempestade aos poucos virava bonança. É confortante saber que temos pessoas ao nosso lado para tudo.

Esse é ao menos o esperado, que infelizmente nem todos têm, o apoio familiar. No entanto, o que nem sempre podemos contar é com o externo, as pessoas que a vida nos coloca no caminho. Mas, estas experiências que me fazem acreditar que o mundo e as pessoas não estão de todo perdidas pelo materialismo, pela ambição de que tanto se fala. Este ano não vou passar o natal no conforto da minha família sanguínea. Mas, seremos acolhidos por uma família que fizemos com um dos laços mais bonitos da vida, a amizade. Nossa querida amiga Sofia e sua família nos convidou para participar deste momento tão íntimo e familiar. Para mim um convite repleto de significado. A mãe da Sofi, nos colocou como uma "obrigação"...Sim, se não têm família aqui, tem que vir! Um gesto aparentemente tão simples, mas tão especial. Ela não deve imaginar o bem que nos faz, sentir o calor e a sensação de estar em família.Obrigada!

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

C'est la vie


O ser-humano é um eterno insatisfeito já parafraseava Freud sobre suas teorizações do objeto absoluto. Sim, hoje trata-se de um desabafo. Talvez por ter sentido minha irmã por perto, talvez por um amigo, companheiro e sua alegria ter deixado nossos dias. Talvez por que senti falta do sol e do aconchego da família.

Nesta vida do lado de cá vemos muitas pessoas virem e irem, e talvez por que ficamos sempre sentimos mais. De fato ando cansada, ando necessitada de alguma estabilidade. Apesar do encantamento de conhecer tantas culturas diversas, novos lugares, novos sabores, sinto um falta asfixiante do conhecido, do seguro, do conforto do "velho".

No geral, há sempre aquele pensamento de senso comum, " Ah, mas você está na Europa", ou então discuto com a minha própria consciência , " foi uma escolha e com ela vem o bom e o mal". Sim, eu sei de tudo isso, mas por hoje gostaria de estar em um conto de fadas, onde o mais improvável pode acontecer, onde posso ser teletransportada.

Hoje só queria estar em casa e sentir o cheirinho da cozinha da minha mãe e esperar pela velha pergunta: está bom? Escutar painho batendo a porto e dizer "querida cheguei", de ouvir o barulho esquisito da minha irmã coçando a garganta. Ter uma das longas conversas fúteis que passam sem aviso a discussões filosóficas com Desinha. Do colo de Érica e de suas palavras de auxílio. Do sorriso de Bó e do cheirinho do bolo da mãe dele, Tia Mila.

Sei que amanhã será um novo dia e com eles novos objetivos, uma nova chance, Mas confesso, estou cansada. Preciso urgentemente reenergizar a alma, acalentar o coração.

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Corpo cansado, coração feliz!

Desculpem aos meus contados, mas fieis leitores amigos, pela cinco semanas sem notícias. No fim da minha aventura londrina foi a comemoração na era de Balzac e com ela a chegada da minha irmã e do Gu, para intermináveis e deliciosas caminhadas recheadas de boa conversa e na terra da rainha. Foi uma semana de turismo pela terra que me abrigou um trimestre e pela qual me apaixonei a primeira vista.

Pude mostrar a Dine a frenética e diversa Londres. No fim de Setembro pude reencontrar meu "ap" e apenas respirar os ares de Lisboa, logo depois parti com minha mana para desbravar um pedacinho da Europa. A viagem começou por Madri, encantada pela terra da Rainha Sofia, pudemos nos deliciar com as tapas, com o estilo D. Juan espanhol e com a frenética capital deste país fantástico chamado Espanha.

A segunda parada foi na apaixonante Barcelona, a Catalunya me encanta. O povo acolhedor e feliz, as ramblas repletas de vida, o lambrusko e o Museu do Jamon. A arquitetura de Gaudí e claro o acolhimento de nossa querida Yareli, uma espanholita das Canárias que conheci através da minha querida "galega braba" Renatão! Foram quatro dias mais que intensos na companhia do Dé, Maíra e Patrícia. Além de reencontrar essa cidade fantástica, pudemos participar do aniversário do Gorka ; um bailarino Basco, figuríssima. Escutar flamenco, gargalhar e cantar pelas ruas da cidade do grande Barcelona Futebol Clube, vale salientar que visitamos o Camp Nou e o Santiago Bernabéu ( em Madri) .

Com o coração partido, nos despedimos da alucinante Barcelona em direção a terra da Amelie. Paris é o sonho de muita gente , mas confesso que não é a minha vibe. Pela segunda vez constatei que apesar de muitas belezas e monumentos de tirar o fôlego, sou mais povão, Barcelona e Londres são mais meu número. Engraçado que a minha irmã achou a mesma coisa. Agora acabo de chegar por um giro no Norte de Portugal, boa comida, pessoas agradáveis e muita beleza natural.

Confesso que estou morrendo de saudade de ficar em casa, de ir a faculdade debater os projetos com meus colegas de curso e com o meu orientador. De simplismente ficar em silêncio no colo do meu preto assistindo TV ou lendo um livro. O corpo e a mente estão cansados, afinal Londres foram três meses de aulas exaustivas todos os dias, finalização do projeto de doutorado, pesquisas infindáveis. Mas, tenho o coração feliz por ter tido a oportunidade de partilhar com a minha galega um pouco da minha vida do lado de cá, das descobertas e poder dividir com ela as belezas que pude fotografar na memória e na retina. Sim, o coração está muito feliz! Gostaria de ter feito mais, no entanto com certeza foi tudo pensado e planejado de todo coração.

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

O avesso, do avesso, do avesso, do avesso

Minha vida tem sido mesmo um oceano de mudanças. Comentei em posts anteriores sobre a mudança do Brasil para o Portugal e da vinda para a Inglaterra. Nos próximos dias me despeço da terra da rainha, no entanto, indubitavelmente com a sensação de que poderia certamente viver aqui para o resto da vida. Foram quase três meses de celebração a diferença, com um orgulho reaceso de ser brasileira. Eis um povo que respeita e admira a cultura dos outros povos. Que gosta de conhecer. Há alguns dias contamos com a presença da Kate, uma nova flatmater super alto astral. Ela é londrina, super fashion, se especializou em marketing para moda. Adoro conversar "potoca" com ela,damos boas risadas. Esses dias ela colocou no facebook uma foto segurando a bandeira do Brasil. Uma pura homenagem e demonstração de carinho sutil, super típica dos ingleses.

Foram meses sem o preconceito fortemente sentido muitas vezes em Portugal. Confesso que a vida de bolsista me faz conviver cada vez menos com isso, mas mesmo assim lidamos diariamente com o mal humor e a grosseria. Aqui da senhora da limpeza aos professores, aqueles chiquetérrimos autores dos livros que lemos, são de uma simpatia e educação fenomenais. E gente, sem estereótipos e generalizações, tenho convivido também com portugueses fantásticos. E neste caso, não poderia deixar de citar minha freneticamente única, Sofia. Mas bom humor, na maior parte das vezes, não é o forte do Lisboeta.

Não me entendam mal, não que não goste de Lisboa, mas não seria um lugar para fincar bandeira definitivamente. Lisboa sempre será uma grata e boa lembrança do meu crescimento pessoal e profissional. A terra onde fiz muitos amigos que meu coração nunca esquecerá. Por que não, a terra que me proporcionou oportunidades também. E quero aproveitar cada minuto da melhor forma na terra de Cabral. Volto de coração muito feliz , mas saudosista. Aqui conheci também muita gente interessante e apaixonante. Não posso deixar de citar a Isabelle, uma francesa quase londrina. Super " trendy" e carinhosa, essa francesinha de riso fácil, apaixonada por bolos e coração de ouro nos mostrou a Londres que turista não vê sou muito grata por ter sua amizade.

Mas, Lisboa é a minha casa por enquanto, é onde está a minha família de coração, os amigos que posso contar. Meu"AP" na Bempostinha, que se tornou o quartel general dessa família fantástica de irmãos que formamos por lá. Volto com o coração cheio de recordações, de novas experiências e a espera das novas aventuras. Depois de me virar do avesso tantas vezes é que percebo que deixei de ser apenas uma Pernambucana (com muito orgulho) no mundo, para ser uma cidadã "do" mundo.

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Uma colcha de retalho cultural


Para qualquer canarinho ter a experiência europeia é fantástico. Quando saímos do conforto da nossa culturas, vemos como às vezes estamos inseridos em nossas bolhas pessoais.No entanto, a experiência dos que possuem , o que posso chamar espírito de mochileiro, que prezam pela imersão na cultura local é ainda mais inebriante. Acredito que faço parte dessa categoria. Quando fui para Portugal estudar não sabia tamanho o choque e a similaridade de culturas poderia encontrar. E foi grande, muitos africanos de vários países, indianos, chineses, uncranianos, russos e claro, brasileiros. Portugal já é um grande mix de culturas interessante.

Mas, acredito que nada no mundo se compara a Londres. O mundo vive aqui! No curso de inglês tivemos oportunidade de estabelecer amizade com espanhóis, italianos, gregos, búlgaros, alemãs, turcos e lá vai o trem. Contudo, além das nacionalidades das potências europeias conheci culturas e países nunca antes pensados. Uma amiga do Turcomenistão, outra do Azerbaijão, Romênia, China, Taiwan, Marrocos, Bangladeshe, Polônia. Pude conhecer melhor diferentes religiões e ter uma aula de humanidade e de conhecimento de mundo.

Além de tudo ainda ter a possibilidade de conviver com o inglês. Como já postei em textos anteriores é amável e politizado. Muito diferente das nossas opiniões pré-concebidas e estereotipadas do que são os nórdicos. Ontem, meu flat mater , o Craig, nos proporcionou um típico jantar britânico. Um super steak, com roast potatoes e salada, claro a imersão da cultura não fica apenas em tirar fotos dos pontos turísticos e ver a diversidade de tribos urbanas da localidade. O que vale é a experiência, os sabores, as texturas, a música, a gastronomia, os hábitos locais.

Querer conhecer uma cultura é despir-se de seus velhos costumes, de seus gostos por hábito, de suas pré-concepções. É mergulhar fundo na experiência e aproveitar o máximo que você tirar daquelas sensações e guardar no coração e na alma. Conhecemos no último fim de semana Liverpool e Manchester. Duas cidades super próximas, complemente diferentes em costumes, arquitetura e ritmo de vida. Liverpool respira Beatles e a paixão pela música. Manchester pelo futebol e pelo comércio. Mas, em ambas reforçamos a nossa nova paixão, o povo britânico. A Inglaterra é sem dúvida uma colcha de retalho cultural que ainda tenho muito que explorar para conceber a minha própria colcha de recordações.

terça-feira, 31 de agosto de 2010

Amigas-irmãs e Irmãs-amigas



Meus pais sempre me afirmaram que fui um bebê muito planejado e desejado. Não discuto isso, até por que não poderia ter nascido em melhor família. Apenas alguns meses depois do meu nascimento, vêm uma notícia arrebatadora, outra vez grávida! Sim, mainha não perdeu tempo.


Era um dia outubrino, um calor danado e ela chegou. E como sempre causando furor, os pais morenos com cabelos negros, e ela uma bonequinha de porcelana. Gordinha, bochecha rosada e bem, bem loirinha, não se via nem a sobrancelha. O nome foi dado em homenagem a uma aluna da nossa mãe. Segundo mainha sempre pedi um irmãozinho.
Na infância éramos inseparáveis todos diziam que era "lindo de viver", se desse algo para uma já vinha logo a pergunta : cadê o da minha irmã? Claro com exceção as tentativas de cega-la quando era bebê ( adorava enfiar o dedo no olhinho dela). Não era raro arrumarmos briga por que alguém fez mal a outra.
Sempre fomos diferentes fisicamente e psicologicamente. Veio a adolêscencia, eita época difícil, nos separamos, seguimos caminhos paralelos, mas sempre de olho se estava tudo bem, não poderíamos dizer que éramos propriamente amigas, mas sim irmãs. Continuávamos nos importando, mas cada uma na sua rotina.
Na fase adulta começamos a encontrar algumas similaridades novamente, mas ainda no papel de irmãs. Até que o improvável aconteceu, uma real distância geográfica. Mudei-me para outro continente, e o menos esperado a distância física aproximou ainda mais os nossos corações . Ficou tão claro que uma das minha melhores amigas sempre esteve ali e nunca percebemos isto.
Hoje é tão difícil não estar mais perto e dividirmos o dia-a-dia, mas é tão confortante saber que os nossos corações são inseparáveis e que sempre estaremos uma pela outra. Infelizmente nem todos tem esse tipo de relação com os irmãos. Agora mais do que nunca sei que naquela manhã de Outubro ganhei um dos maiores tesouros que a vida poderia me oferecer. Uma companheira de estrada, uma amiga, uma irmã. Ela agora vem conhecer um pouco do meu novo mundo e eu estou morrendo de ansiedade para mostrá-la.

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Três e meio


A sociedade capitalista impõe uma série de datas em nosso calendário quotidiano. Seja dia da mãe, do amigo, do namorado. Claro, que sempre existe um pouco de poesia e carinho nestas datas. Normalmente, você pensa na importância que aquela pessoa desempenha na sua vida. Gosto dos aniversários, para mim parece realmente algo a comemorar. O fecho de um ciclo e a aquisição de conhecimento.

Em matéria do amor, já fui na adolescência mais ligada a estas datas. Hoje após perceber a real importância de algumas coisas compreendi que não vive-se de certas datas. Domingo, completo dois anos de casada (é quem diria!). É engraçado algumas peculiaridades do meu relacionamento. Ele me lembra das datas, me pergunta todo o tempo se eu estou lembrada. Não que ele ligue muito. Acho que é desafiador ter o oposto. A maioria das minhas amigas, achariam um absurdo eu falar isto. Mas, convenhamos por que comemorar com presentes caros e um jantar espectaculoso?

A real beleza da nossa união está nos três anos e meio que ela comemora. Cada dia foi especial pelo seu motivo singular. Não digo, que deve-se esquecer, mas comemorar de uma forma particular, que cada casal têm. Jantar e Hotel é tão cliché e comercialmente pensado. Pensem nos motéis em dia dos namorados.

A melhor forma de comemorar uma relação é pensar em como ela pode ficar melhor e viva. O caminho foi longo, mas sei que encontrei um bilhete premiado, e sem a pieguice do amor cego. Temos defeitos e qualidades e conhecer isto faz a relação ter veracidade e sim, o amor verdadeiro. O dar e receber diário é mais difícil do que se pensa, mas ao mesmo tempo é confortante e estimulante. Tenho a certeza que além de um marido, tenho um amigo para todas as horas.

Somos o individual e uma unicidade ao mesmo tempo, hoje sabemos com frequência, quase que instantaneamente, o que o outro quer, o que desagrada, o que deseja. Um simples olhar e faz-se mágica. Isto é um fato a comemorar e brindar, foi uma construção árdua e trabalhosa e que deu certo! Odeio quando as pessoas falam que uma relação acabou por que não deu certo. Que absurdo, ela deu certo pelo tempo que durou. Não imagino a minha vida hoje sem a presença dele, mas o futuro são feitos das nossas escolhas. Sei com certeza que será um parceiro de uma vida, por que o que já passamos juntos ninguém apaga.

Sim, sei, as pessoas fatalmente esperavam um texto romântico e poético para falar desta data feliz das nossas vidas. Essa não sou eu. Na maior parte da nossa relação ,ele é o coração, eu sou o cérebro e talvez por isso funcionemos tão bem juntos. O que importa é que nesses três anos e meio de convivência cresci como pessoa, como mulher e como profissional por que ele me fez querer ser alguém melhor. Obrigada preto, te amo.

sábado, 31 de julho de 2010

Para um filho...

Saudade, o que é essa palavra com tanto significado e sem tradução. Enquanto o mundo fala da falta que sente de algo ou alguém, o idioma português consegue simplificar em uma só palavra. Esse sentimento doído, por vezes gostoso de sentir, é tão intenso quanto difícil de definir. Com o tempo, vários lenços de papel, lágrimas e desânimo conseguimos aprender a lidar com ele.

Apesar da enorme falta que me faz a minha família , meus amigos , meus queridos da terrinha, consegui, a muito custo, lidar com a falta do toque, do cheiro, do ombro. O primeiro ano foi terrível, bate aquela depressão que sempre decifrei por " frescurite aguda". Foram algumas pessoas que passaram na minha vida ao longo destes três anos fora de casa, uns ficaram ou outros apenas passaram. Mas, certamente foi através destas pessoas que pude compreender e me adaptar a viver sem a presença física dos que me são caros e únicos.

Em um grupo compacto, mas "precioso", eu ganhei dois filhos (já criados). Sempre ouvir mainha dizer para mim: "crio filhos para mundo, não para mim", eu acredito fortemente nesta máxima e pretendo aplicá-la. No entanto, quando foi minha hora de bater asas foi dolorido especialmente para ela. Estranho, ainda não sou mãe e nem adquiri o sentimento da maternidade (pelo menos para bebês agora), mas meus amigos sempre me definiram como maternal.

Essa semana descobri que um desses filhos que Lisboa me deu está preparando voo . Todos nós sabíamos que era temporária nossa convivência carnal, que aconteceria brevemente,mas é doloroso vê-la concretizar-se. É um mix de sentimentos difícil de descrever, tristeza pelo egóismo embuido que todos temos da necessidade da presença. Felicidade por vê-lo feliz ao bater asas para novos e pitorescos horizontes. Conhecer um pouco do mundo têm sido umas das experiências mais inriquecedoras que tenho obtido nos últimos tempos. E como boa mãe, devo desejar o mesmo para os meus filhos (;))

A palavra "perder" é forte, mas certamente que a minha vida em Lisboa perderá uma boa dose de brilho,piada, diversão e companheirismo. Entretanto, sinto-me grata e feliz por ter tido a oportunidade de conviver, chorar e rir junto (rir bem mais , com certeza). Orgulhosa de ser sua amiga e ter dividido momentos especiais e únicos. Sei que um pouco dele ficará em nossas vidas sempre. O que me resta desejar é que ele encontre em outros pousos felicidade e que espalhe ainda mais a sua energia contagiante e poética. E ter a certeza de que muitos reencontros virão...

segunda-feira, 26 de julho de 2010

Dublin - O tesouro dos Leprechaun

Este fim de semana fui conhecer Dublin. A capital irlandesa é berço, para mim, da maior banda de todos os tempos, o U2. Fui consciente de que iria respirar aqueles ares, conhecer uma bela cidade, mas que não ia ver muito do U2 por lá. Uma amiga querida , também fãzona do U2, foi tempos atrás e se decepcionou um pouco neste aspecto. Bem, chegamos a Dublin bem cedinho, 8 da matina, o aeroporto é super central e a pouco mais de meia hora do centro.

Primeiro contato com os Dubliners na imigração, meu Deus, quanta gentileza e educação. Peguei as informações no ponto turístico e partimos para o hostel. O nosso hostel foi o Litton Lane, super no centro, simples, mas com um pessoal muito simpático e prestativo. Deixamos as malas no hostel, fui a uma sala especial onde se guardavam as bagagens e deparei-me com o inesperado. O hostel é todo rock in roll, mas tem em cada andar uma banda ou artista irlandês como elemento principal. O meu foi o terceiro andar...quem é? quem é? quem é? U2!!! Foi lindo, me arrepiei. Partimos então para a primeira dica que recebemos a respeito de Dublin, o Free Walk Tour.

Antes do passeio uma parada num café para "encher o bucho", fazia um solzinho gostoso em Dublin, o primeiro passao ouço no fundo "The heart is a bloom, shoots up through the stony ground...It's beaultiful day...". Sim, primeiro lugar que eu entro U2 tocando, e detalhe era uma rádio!Fomos para o Free Walk e decidimos fazê-lo em espanhol, nos deparamos com uma espanholinha muito divertida e simpática, a Belen. Aprendemos muito sobre a história de Dublin e conhecemos peculiaridades fantásticas. Conversa vai, conversa vem ela é uma Big Fã também. Chegamos ao Ponto Alto da excursão, detalhe eu não sabia que teríamos isso no tour, no Temple Bar o muro onde o MacGuiness descobriu a banda e na frente o Hotel de Bono....Delírio total! Como fã é estúpida, mas vamo-que-vamo. O tour foi massa por que fomos a todos os pontos turísticos obrigatórios e depois voltamos aos que n~so se podiam entrar com o tour.

Depois da tour, voltamos ao hotel para descansar,afinal acordamos no dia anterior às 3 da matina para pegar o vôo. A noite fizemos o nosso Pub Crawl individual, partimos por alguns Pubs , o dani nas Pints e eu com a minha nova deliciosa descoberta, "irish cidra", a Bulmers. Escutamos música típica irlandesa, beatles, etc. O Temple Bar é uma região de bares, para os lisboetas, tipo Bairro Alto, para o Recifenses, o Recife Antigo. Mas muuuuuito melhor, música por todo lado. Os irlandeses são um povo acolhedor, agradável e divertidíssimo. Em certos aspectos parecem com o brasileiro, ganham dinheiro com todo tipo de coisa no turismo, adoram uma boa farra e de brincar com as pessoas. Sério, nunca fui tão bem recebida é um país desconhecido como a Irlanda.

No dia seguinte, compramos uma excursão com a Over the top tours. Chegamos ao ponto de encontro havia um senhor muito simpático o Eduardo, que preferia ser chamado de Ed. Fomos para Winclow ,é como uma parte interiorana, muito usada como locação de filmes em Dublin. O patriota e o lindo P.S I love you foi filmado lá. O Ed, ao longo da viagem se tornou ainda mais "fegura". Tirava piada com todos, já viajou muito e conhecia muita coisa de mundo. Na trip haviam duas suíças que logo se tornaram nossa amigas , Nadine e Patrizia. Um espanhol do País Basco, Gonçalo. Além de de mais três madrileños, uma mexicana, um casal canadense e uma americana. Rimos muito com as piadas do Ed e nos apaixonamos pela paisagem.

Não sabia o que me esperava nesta trip. O Ed nos falou que iria fazer um percurso diferente pela costa de Dublin, que era mais bonito, mas um pouco mais longo. Pudemos ver o mar em Dublin e como se nada fosse o Ed vira-se e fala : "Este castelo aqui é a casa da Enia e logo a frente podemos ver também a casa do BONO!", eu disse sem querer do Bono????????? Juro comecei a tremer, que mulher tapada né! Mas, não conseguia parar de tremer. O Ed, super querido, diz podemos parar para tirar fotos uns minutos. Logo virei atração, a Nadine e Patrizia , começaram a me aperriar. E o Ed descobriu a minha tatoo em homenagem a banda e começou a mostrar a todos. Fui tão sem expectativa de ver aspectos ligados aos meus amores, mas parecia que eles me perseguiam.

O dia foi fantástico, no meio da trip o Ed parou e no carro haviam típicos cookies irlandeses com chá e café, a vista era de cinema. Só o tempo em Dublin não é lá muito favorável , mesmo no verão, é constantemente nublado e de vez em quando chove. Ao conviver um pouco de perto com esse povo pensei, dizem os lisboetas que o povo é mais fechado e frio no inverno por causa do clima. Mas, como podem os irlandeses serem tão amáveis e receptíveis tendo inverno o ano todo? Voltamos do passeio apenas no fim da tarde com o U2 tocando na rádio, inesquecível.

Fomos a noite para o Temple Bar, a qualquer hora tem vários artistas de rua tocando por lá, assim como os new fab four faziam. A cidade é musical, animada, repleta de gente bonita e bem humorada. Encontramos por lá a Nadine e a Patrizia, e fomos para o Pub mais animado, eleito no dia anterior em nosso Personal Pub Crawl o Aulds Dubliner, gente para caramba. Logo que chegamos ao bar para pedir um irlandês muito engraçado e simpático, começa a puxar assunto com a Patrizia e depois com todas nós. Ele tinha um grupo de amigos muito engraçados. A noite foi animada, dançamos, bebemos e brincamos uns com os outros. Meu Deus, o meu poetinha camarada vai ficar louco nessa cidade de gente bonita, feliz e paqueradoura. As pessoas dançam umas com as outras sem se conhecer, fazem brincadeiras, simplesmente fantástico.

O meu último dia em Dublin, depois de ser perseguida pelos meus amados, decidi correr atrás deles. Fui a Windmill Lane, sim o primeiro estúdio onde foi gravado os primeiros albúns. O estúdio já não se encontra mais lá, existe apenas um prédio assinalado por uma placa em forma de disco de vinil, essa placa pode-se ver em toda a cidade nos pontos onde os famosos da irlanda começaram as carreiras. E muitas pichações em tributo a banda. Na minha saga, fui ver o Docker's primeiro pub onde o U2 tocou, tam bém lá não existe mais nada e agora tem um tampão de madeira, mas a emoção foi indescritível. Fui a Loja que deu o nome artístico ao Bono , Bona Vox.

No fim da trip , encontramos uma amiga de colégio do Dani que mora em Dublin a 9 meses. Na conversa descobri que inclusive o estrangeiros moradores de lá são super bem tratados. Que a simpatia desse povo fantástico não é coisa para turista, está irraizado neles. Na volta no aeroporto, pasmem, a polícia de imigração na saída " Hello, how are you?" com um enorme sorriso. A policial na revista das malas, olha para mim, elogia meu guarda-chuva de ovelhinhas e diz " Que lindo, você pagou caro? Quanto foi? ( parecia conversa de salão). Eu disse paguei 6 euros e ela "ahhh, então pagou bem, que bom!" com um enorme sorriso. E percebi finalmente que a lenda da busca dos leprechaum ( duendes) pelo tesouro no fim do arco-íris é legítima, o tesouro irlandês além do U2 é o seu povo charmoso e acolhedor.

terça-feira, 20 de julho de 2010

Friendship

Londres está fervendo no sentido literal. Está um super calor, mas o sol fica sempre escondido.Essa semana pude me sentir uma londrina nata. Já estava sentindo falta do ginásio e fui fazer o que todo londrino faz, usar a cidade como desporto. Entre bicicletas, carrinhos de bebê e skaters , estava eu correndo no parque. Todo bairro de Londres tem parque e o meu fica a duas quadras de casa.

Crianças correndo em uma liberdade que a muito não via. Continuo a me impressionar com a doçura e educação londrina. Ao correr passei por várias pessoas também correndo com os seus ipods e aparelhos sonoros, com raríssimas excepções todas e todos cumprimentavam-se quase que como ritual,nem que seja com um ligeiro sorriso. Vi esse tipo de tradição em Marrocos quando os carros avisavam uns aos outros que havia blitz logo a frente como um corte de luz.

Ontem conheci melhor os meus outros flatmaters, o Fred, é um rapaz franzino e braquinho, super tímido e reservado. A casa é de estudantes, e desta forma é sempre uma bagunça. Como sou nova na casa, não quis mexer nas coisas sem perguntar. Perguntei ao Fred se poderia fazer uma limpeza na cozinha. Isso bastou para começarmos uma conversa muito agradável. Falei para ele que o inglês britânico era difícil para mim de entender. Ele começou a falar devagar e incrivelmente me contou sua vida em 5 minutos! Mas... espera , e aquele estória que o londrino é fechado e super reservado... "bullshit"! O Fred é do Sul de Londres, trabalha aqui e é formado em relações publicas. Fala um pouco de latim e por isso entende um pouco português. Morou nas ilhas gregas.

Logo depois, para animar a conversa chegou o Ryan, um escôces engraçadíssimo, que tem um olho azul e o outro castanho. Ele está no quarto do Craig, da qual já falei antes. O Ryan veio passar o verão em Londres como eu. E da mesma forma, entende pouco os inglês dos britânicos. Depois de uma conversa animada, terminei a faxina e fui dormir feliz de conhecê-los melhor. Hoje cheguei do curso e fui jantar o Ryan estava na sala assistindo " Sex in the City". Ele entende todos os altos e baixos da Carrie, adorei, tricotamos bastante sobre o Big e o Aiden. Lembrei logo da minha noite da lulu com a minha querida jujuca, a frenéticamente única Sofi e a louquinha da Vânia. E claro, vêm logo na cabeça a música parodiada da "Margem Sul - State of Mind" e do Gu requebrando geral.

Nessas horas, só tenho que agradecer por toda a oportunidade que a vida e Deus me dão, de conhecer e poder conviver com pessoas maravilhosas como estas. Para chegar aqui a luta foi grande, mas o esforço está diariamente sendo recompensado. Apesar da saudade da família e dos meus amigos da terrinha, fica a sensação de que cada dia a minha família de mundo só aumenta, como diria o grande Nando Reis " ..a minha família já é muito maior, e muito melhor..."

sexta-feira, 16 de julho de 2010

Tico e Teco by London


No segundo dia nesta agitada metrópole fui conhecer meu curso de inglês, nos perdemos um pouco mas, acabamos por encontrar. O lugar é simples e simpático, fica pertinho de busão. E claro, não é um ônibus qualquer, é aquele famoso "red double". Após resolver as burocracias da nossa vida londrina, decidimos conhecer o Hyde Park. Sim, não deu para o conhecer da outra vez. Há dois anos atrás conheci o Regent Park e uma figurinha simpática que timidamente me pedia comida, o esquilo.

Me imaginei participando de um dos meus desenhos favoritos quando era um pitoco, tico e teco. Aquela criatura fofinha pegou com as suas mãozinhas pequeninas a comida e levou a correr para comer perto de uma árvore. A experiência foi fantástica e fiquei inebriada durante o resto da minha estadia na terra dos apreciadores de Pubs. Ontem, sentei timidamente logo no inicio do Hyde Park. Muita gente correndo, sorrindo, fotografando. Eis, que de repente surge uma bola felpuda e colocas as mãozinhas em cima da nossa mochila.Sim, ele era mais afoito e "inxirido", no bom pernambucanês, que o outro. Ele ficou comendo ao nosso lado durante uns bons 15 minutos. Terminava e ia buscar mais. No entanto, foi aglomerando aquela espécie de turista chato. Um inclusive , disse que eu estava fazendo sombra para a foto, e a outra oriental deu um grito quando ele aceitou do seu biscoito.

Claro a criaturinha fugiu, mas o que mais me surpreende nesta cidade é que tudo é um tanto inesperado e mágico. Aqueles pequenos bichinhos que no meu imaginário infantil eram magia, interagindo ao vivo e a cores, no meio de uma cidade frenética. Dali de onde nos relacionamos dava para ver e ouvir os carros passando.Mas, ele agia com uma naturalidade fantástica. Uma questão ficou na nossa cabeça, a Disney tirou dessa espontaneidade realística as aventuras e características destes personagens tão queridos da minha infância. Mais uma faceta de Londres que vale a pena viver!

quarta-feira, 14 de julho de 2010

Desbravando Londres

Novamente mudanças, como já comentei em um post anterior, nestes últimos três anos são muitas. Sempre fui inquieta e tive sonhos de desbravar o mundo. Eis que encontrei um parceiro a altura e a nossa vida europeia tem sida uma roda viva. Londres tem sabor de promessa cumprida. Estive aqui cerca de dois anos atrás e prometi que voltaria a esta frenética e fantástica capital do mundo. Engraçado, nossa primeira vitória. Eu e o dani, passamos por momentos de privações e apertos.E Londres foi o nosso primeiro suspiro de alívio, a primeira viagem de muitas. O mais cômico, é que novamente a nossa vinda para cá é resultado de outra vitória.

Chegamos a terra da rainha encantados, mas um pouco irrequietos com a tal frieza britânica.Tudo conversa da corochinha! O londrino é educado, prestativo e sim , simpático. Claro, estou falando da minha experiência turística. No entanto, neste primeiro dia, fui comprar o passe dos transportes, adaptadores, novo celular, fazer o pagamento do quarto no banco,pegar ônibus e mais ônibus. E todos, muito educados e prestativos...e ainda sorridentes. Perdoem-me os Lisboetas, mas como senti falta desse calor humano nestes últimos tempos.

Conheci um dos nossos flatmates, o Craig, que doçura esse moço (como diria minha jujuca). Super preocupado em nos fazer sentir em casa. Ele é inglês, mas não é londrino, trabalha na TV local. Os demais são todos estudantes de medicina. A nossa casa é fantástica, sala, cozinha e o melhor um super quintal com direito a churrasqueira, que mais uma canarinha poderia querer.Ah...já sei, o sol!! Parece outono, chove, para, faz vento, faz calor. Mas quero lá saber, viver a diferença é fantástico.

Ao entrar em uma loja para comprar uma adaptador fui confundida com uma indiana. Quem conhece o dani, já sabe que ele é a cara dos apreciadores de Curry. Mas, foi engraçado por que foi comigo. Ao invés de perguntar de onde era, me perguntou enfático: " de onde és na Índia??", ri e respondi que era brasileira, ele abriu seus olhos grandes, sorriu e completou:"Pareces do Norte da ìndia".

Passeando pelas ruas da Oxford Street, apesar do sol não aparecer, a larga avenida tem cara de verão. Todos vestem o que querem , as meninas e os meninos paqueram. Que diria meu filhote lisboeta, vai amar este clima predisposto das britânicas. Rostos bonitos e tão distintos, a imigração é forte aqui, mas não percebi resquícios do preconceito por raças. Claro, já conversei com amigos que tem que trabalhar por aqui e a realidade muda de figura. Mas, não se denota a xenofobia, aspectos por nacionalidades e sim por ser estrangeiro. Mas, isso é prosa para outra hora. Pretendo desbravar cada pedacinho desta rica e fantástica cidade enquanto estiver por aqui.London baby, are you read??? Câmbio, desligo!

quarta-feira, 30 de junho de 2010

Na Publicidade e no Futebol nem toda estratégia é previsível

Sou publicitária de corpo e alma. Tenho saudade, com um certo alívio, dos dias da correria midiática, elaborar boas estratégias e assistir ao crescimento das vendas ou de recall dos clientes devido a boas ideias.Hoje em dia, o ponto alto de algumas marcas é associa-la a celebridades, atletas, atores, pessoas públicas em geral.

O problema é que nem sempre o tal midiático escolhido faz juz ao patrocínio. Que dirá a Nike, com patrocínios milionários, recheados de atletas de várias categorias. Pois é!Em tempos de Copa do Mundo, onde a visibilidade é altíssima, parece que a marca chutou para fora de campo todas as possibilidades.

O Ronaldinho Gaúcho nem foi convocado. A seleção Inglesa apresentou um Rooney pouco expressivo e já foi eliminada. Drogba da Costa do Marfim é um grande jogador, mas não passou da fase de grupos.A França foi um desastre e junto mais um patrocinado Nike,o Ribery.E para fechar o escolha desastrosa, a eliminação da Itália, e do poderoso Cannavaro, e a eliminação de Portugal com o Cristiano Ronaldo.

Nike não arriscou muito, patrocinou seleções favoritas, apesar de não patrocinar nenhum alemão. O único risco foi a Costa do Marfim, no entanto, o Drogba apresenta um futebol fantástico, e justifica-se por isto. Agora basta saber quem vai " escrever o futuro", a Nike certamente não é!E sim me recuso a falar da eliminação do Brasil, ainda engasga ter descascado a laranja e não ter engolido o bagaço...

segunda-feira, 28 de junho de 2010

Futebol de calcinha

Hoje a seleção canarinha entra em campo para as oitavas de final, meu coração já fica apertado desde o primeiro minuto da manhã. O time de Dunga tem conseguido vitórias, mas não conseguiu convencer o coração dos milhões de brasileiros. E não estou falando do futebol-arte tão reconhecido pelo mundo. Claro, que é importante considerar que as demais seleções tem apresentado um jogo pouco ofensivo e cheio de retrancas. Mas, as táticas de jogo apresentadas não convencem, o jogo é manco e esquisito.

O nosso próximo desafio é o Chile, um time na qual temos 100% de aproveitamento com a geração atual, o jogo promete ser aberto. O importante é pensar no hoje e não em revanchismos e tabus. Kaká está de volta, e espero que faça uma apresentação digna de seu bom nome ao longo dos anos. Enquanto isso na África brasileira, meu glorioso time , Sport Clube do Recife amarga uma péssima colocação na série B do brasileirão. O mesmo time que acaba de ganhar o pentacampeonato Pernambucano e que ganhou a Copa do Brasil em 2008. Mas, futebol é assim mesmo…

E por favor não venham com esse papinho estereotipado e machista que futebol NÃO é coisa de mulher. Eu cresci em volta dos gramados graças ao meu pai, nos levava desde pequenas para ver o jogo. Sim, sai da maternidade vestida no manto sagrado e não era raro nos ver de uniforme rubro-negro entre pitós e chiquinhas.Alias, cresci vendo a minha voinha, criaturinha mais meiga e querida, chamar todos os palavrões que venham a cabeça a assistindo as partidas de futebol seja no campo ou pela TV. Hoje a inserção das mulheres no esporte é tida como natural, seja nas arquibancadas, seja nas coberturas, comentários e na prática, com as mulheres a apitar as partidas.
São 90 minutos de gritaria, suor, chutes na trave, escanteios, faltas, impedimentos mal marcados e recheados de lances polêmicos. Alias, a arbitragem da copa , tem sido pauta da agenda pública diariamente, pelo pior motivo. Fiiilhos da puta! Esse discurso sem graça de que mulher assiste jogo para ver apenas as pernas dos jogadores é preconceituoso, e por que não cheio de inveja da nossa visão multifacetada. Não que eu discorde que vê o Santa Cruz do Paraguay jogando seja um colírio, e que sim muitos jogadores batem um “bolão”.

O futebol é sangue, suor, paixão, alegria, não importa se os gritos vem de uma voz mais grave ou aguda, a paixão por este desporto é pura tarefa da democracia. Um amigo querido escreveu que a mulher não tem nenhuma paixão que relacione-se ao amor masculino pelo futebol. Claro, querer relacionar cabelos, compras, novela ao futebol é um crime hediondo. Para as mulheres que apreciam e dividem essa paixão o futebol está para o futebol como futebol! Torcemos, discutimos, brigamos de igual para igual, e sim sem perder o estilo.

domingo, 27 de junho de 2010

No carrossel da vida

Confesso que a ideia de criar um blog não foi minha, meu fiel companheiro que me incentivou a colocar em palavras escritas o que nem sempre consigo expressar verbalmente. Em bom Português europeu, cá estou eu, pá!
Mergulhei em uma experiência que iria mudar completamente a minha vida e a perspectiva que tinha de mundo há 3 anos. Sair da minha zona de conforto não foi fácil, e não digo apenas sair da casa de mainha com tudo perfeitamente sincronizado e cuidado. Mas, sair de perto das pessoas que me faziam ser alguém especial, alguém que fazia sentido no mundo deles e no meu. Cheguei a Lisboa com duas malas na mão, nenhum conhecido e um namorado recente.Deixei por lá os braços quentinhos de painho, a gargalhada contagiante de mainha,a voz rouca e calmante da minha irmã, o protecionismo dos meus irmãos, o colo de voinha. A amizade e companheirimo de Bó, Keka,desinha e de tantos outros valorados no meu coração.

Conhecer lugares a turismo é completamente diferente de emergir no cotidiano, conhecer as ruas, a história, ser parte daquela história. Reconhecer defeitos e qualidades daquele lugar. Meu primeiro ano aqui foi difícil, conviver com sensações que nunca havia experimentado enquanto cidadã do mundo, lutar contra a depressão, o isolamento e dividir o pequeno espaço de um quarto com um desconhecido. Trabalhar em sub-empregos com a qual havia apenas me deparado na adolescência para ganhar "algum". Ao mesmo tempo que foi complicado deixar de ser "alguém" foi um experiência com muito crescimento pessoal.

Agora "cá estou eu, pá! Três anos depois, outra Soraya, aya, sol , solzinha, o meu coração sempre será aquela que saiu de Recife. Mas, a minha alma adiquiriu cicatrizes e acrescentou a luz daqueles que conheci e que têm me deixado muito de si. A ideia de criar este blog só agora, anos mais tarde, é por que começo a sentir novamente a sensação das borboletas no estômago. A sede e o receio da mudança. Hoje já não tenho medo dela, o tal namorado recente, tornou-se o melhor companheiro que o meu coração e a vida poderiam me escolher, Lisboa é hoje parte de mim e da minha história, deixei de ser ninguem no conglomerado lisboeta para ser novamente alguém com diferencial na vida dos amigos muito especiais que são hoje parte da minha família do mundo. Deixei os sub-empregos, por uma bolsa de estudos paga pelo governo que me maltratou um bocado por ser "imigrante".

Vou passar uma temporada em Londres e novamente me deparo com o desconhecido, não exatamente como vim para o além mar, por que já conheço um pouco da cidade das Pints. Mas , novamente vou abrir meu coração para um novo lugar, novas pessoas e experiências. Estou ansiosa, grata e saudosa, mas acho que depois de tudo isso, saudade vai ser uma constante no meu dicionário da vida. E isso sim é viver ...